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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ex-detentos relatam torturas e ameaças dentro de prisão na Líbia


Os enviados especiais da Rede Globo à Líbia, Marcos Uchôa e Edu Bernardes, entraram na prisão que foi um dos palcos dos horrores da ditadura de Muammar Kadhafi.


Os enviados especiais da Rede Globo à Líbia, Marcos Uchôa e Edu Bernardes, entraram na prisão que foi um dos palcos dos horrores da ditadura de Muammar Kadhafi.
Ezei Thun, um empresário líbio que, na juventude, namorou uma brasileira, leva a equipe do Jornal Nacional para dar uma volta em Trípoli. No que era propriedade de Kadhafi, dois rapazes pintam o nome de um amigo. Explicam que ele foi o primeiro a morrer na tomada da fortaleza do ditador. Mas era fácil perder a vida pelo lugar até em tempos de paz.
"O melhor jogador de basquete da Líbia morreu aqui mesmo por causa disso. Porque ele ficou na noite e não sabia essas coisas, então ele matou", conta Ezei.
Alguns líbios vão conhecer a prisão, local onde, ao longo de mais de quatro décadas, mais gente foi morta. Muita gente teve parentes e amigos que estiveram pelo local. Um rapaz diz que é um lugar horrível, que mora perto e que sempre ouviu muitos gritos.
São blocos e blocos que alojaram, até a semana passada, mais de dez mil prisioneiros. A grande maioria perseguidos pela polícia de Kadhafi. Todos ficaram durante últimos quatro dias de prisão sem comer nem beber nada. Quando os guardas fugiram, os rebeldes soltaram todos.
Ashroff ficou os últimos seis anos preso e ganhou a liberdade exatamente nessa hora. Ele fala do primeiro dia, de ser vendado, amarrado e de ficar horas de pé, encostado na parede, ameaçado de levar um tiro se fizesse qualquer movimento.
Ashroff explica a razão de haver marcas na porta. É o desespero dos prisioneiros. Os muros são altíssimos, intransponíveis, e são vários. Escapar realmente era impossível. Um dos muros deve ter de seis a sete metros de altura, fora o arame farpado.
A história da prisão é bem mais longa e ela já foi pior. Khaled ficou preso por quatro anos. Ele voltou ao local com dois irmãos, também pela primeira vez. Teve que sair do país para sobreviver. Foi preso com 19 anos. Era estudante e não gostava de Kadhafi.
Khaled diz que um buraco mínimo era um hotel de cinco estrelas em relação a 1984, quando ela estava na prisão. Diz que tinha muito rato. O rato pegava o pão, então ele dormia segurando os alimentos. Ele conta que não havia colchão. Ele tentava falar durante a noite com os outros prisioneiros para saber notícias das pessoas. Quando os guardas ouviam, torturavam e batiam muito neles.
As lembranças vão voltando, mas é impressionante o bom humor do homem. Esse astral tem algo parecido com os brasileiros. Ele diz que ama o Brasil e que o país é a segunda pátria dele. Durante todos os quatros anos em que Khaled esteve preso, a família não sabia o que tinha acontecido com ele. Essa era mais uma tortura que todos sofriam. Mas ele conta tudo rindo e essa talvez seja a força das pessoas.
Ele diz que fará outra Líbia. “Quem não for uma boa pessoa, vamos ajudá-lo a virar uma boa pessoa.”
Os muros da prisão de Kadhafi e a gaiola vazia na mão do rebelde são símbolo de tudo que essa nova Líbia quer deixar para trás.
Marcos Uchôa contou que Ashroff nunca recebeu qualquer explicação sobre o motivo da prisão. Isso aconteceu com muitos outros detentos. Ashroff disse que foi levado pelas forças de Kadhafi quando estava em uma mesquita.
Nos últimos anos, grupos de direitos humanos cobraram do governo líbio que identificasse os responsáveis por um massacre ocorrido em 1996 na prisão de Abu Salim, quando mais de 1,2 mil detentos morreram. A explicação oficial era de que teria havido uma troca de tiros entre guardas e presos após uma tentativa de fuga.

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